Tomada da Bastilha

Esta pintura, pelo pintor francês Jean-Baptiste Lallemand (17 de agosto de 1716 à
1803), conhecido pelas suas paisagens e quadros históricos, pintada cerca de 1790-
1795, em óleo sobre tela, que se encontra no Musée de la Révolution Française, em
Vizille, em França, retrata a tomada da Bastilha, mais especificamente, a prisão do
governador da fortaleza, Bernard-Jordan de Launay, e dos seus homens.
A Bastilha foi construída em 1370, medindo 35 m de altura e sendo rodeada por um
fosso com quase 3 m de largura, O seu propósito original era ser uma fortificação para
proteger Paris contra ataques ingleses (estando França envolvida na Guerra dos 100
Anos, na altura). Mais tarde, tornou-se numa fortaleza independente, mas, pelo século
XVII, já tinha sido estabelecida como uma prisão do Estado, estando as suas celas
cheias de delinquentes e agitadores políticos, predominando aqueles que agiam contra
o governo, tendo também em conta que a maior parte dos prisioneiros estava lá sem
ter tido julgamento.
Aquando 1789, o descontentamento popular começava a atingir um ponto de
rutura, aumentado pela crise económico-financeira causada pela falta de colheitas, os
gastos do Estado no exército e na corte, e, principalmente, a injusta sociedade de
ordens, que isentava as ordens privilegiadas de contribuições para as receitas do reino.
Desde 1774, com a subida ao trono de Luís XVI, que se iniciaram tentativas de
resolução da crise. No entanto, o rei não estava disposto a fazer os compromissos
necessários e retirar privilégios às ordens mais elevadas, despedindo os ministros Anne
Turgot, Jacques Necker, Charles Calonne e Étienne Brienne, que o sugeriram. Os
Parlamentos e a Assembleia dos Notáveis também se recusavam a ver o verdadeiro
problema económico e social, culpando apenas a realeza, contribuindo para o clima de
tensões elevadas e agitação social, assim como de violência e pilhagens. Nem os
Estados Gerais, convocados a 5 de maio de 1789, chegaram a uma conclusão, o que
levou à proclamação da Assembleia Nacional Constituinte pelos deputados do Terceiro
Estado, após o Juramento da Sala do Jogo da Pela, em que se comprometeram a não
se separarem enquanto não redigissem uma Constituição para o país.
Este espírito revolucionário não parou por aqui, sendo a 14 de julho que se iria
verificar o ato emblemático da Revolução Francesa: a tomada da Bastilha. Desde cedo,
descontentamento social face à ineficácia das assembleias e do rei começou a
manifestar-se em pequenas revoltas pelas ruas de Paris pelas multidões revoltosas. O
governador da Bastilha, Launay, começou a desconfiar de um possível ataque à
fortaleza, pedindo reforços e mantimentos, sendo que lhe foram enviados mais
soldados e 250 barris de pólvora (a 12 de julho), que foram levados para dentro e
foram erguidas as pontes levadiças. A 13 de julho começaram os ataques aos guardas
da Bastilha, e foi saqueado o Arsenal de Paris, tomando as multidões milhares de
mosquetes. Ao amanhecer de 14 de julho, o povo, armado de mosquetes, espadas e
diversas armas improvisadas, reuniu-se em torno da Bastilha.
Launay recebeu uma delegação de líderes revolucionários, que pediam controlo da
fortaleza e entrega das suas munições. Este recusou-se mas prometeu não abrir fogo,
mostrando aos revolucionários que os canhões não estavam armados. Isto teve o
efeito contrário do esperado e incentivou um grupo de homens a escalar o muro
externo e baixar a primeira ponte levadiça a partir do pátio interno. Trezentos
revolucionários invadiram a fortificação enquanto os guardas assumiam uma posição
defensiva, sendo que abriram fogo quando a multidão começou a tentar abrir a
segunda ponte. Cerca de 100 manifestantes morreram ou ficaram feridos, mas ainda
assim, os parisienses continuaram a chegar à Bastilha, os homens de Launay
mostrando-se incapazes de conter a multidão. Chegaram, à tarde, uma companhia de
desertores do exército francês, que, ocultados por uma cortina de fumo, conseguiram
posicionar cinco canhões contra a fortaleza. Perante isto, Launay rende-se e ele e os
seus homens foram feitos prisioneiros. Este é o momento retratado no quadro de
Lallemand, sendo possível observar a fortaleza, o fumo, os canhões, os soldados,
Launay e os guardas a serem detidos e o povo francês armado a disparar contra a
fortaleza. A pólvora e os canhões da Bastilha também foram tomados, e os prisioneiros
libertados. Depois disto, o governador da Bastilha deveria ter sido, supostamente,
julgado por um conselho revolucionário, no Hotel de Ville, mas, ao chegarem ao hotel,
este foi afastado e morto por gente do povo.
A tomada da Bastilha e a sua consequente demolição (oficialmente ordenada pelo
novo governo revolucionário e terminada a 6 de fevereiro de 1790) são dos primeiros
símbolos da Revolução e da vitória do povo, sendo que o dia 14 de julho, dia da Queda
da Bastilha, é o maior feriado da França.